domingo, 21 de abril de 2013

O que há?



    As nuvens são sombrias
    Mas, nos lados do sul,
    Um bocado do céu
    É tristemente azul.


    Assim, no pensamento,
    Sem haver solução,
    Há um bocado que lembra
    Que existe o coração.


    E esse bocado é que é
    A verdade que está
    A ser beleza eterna
    Para além do que há.

    Poema Fernando Pessoa
    Fotografia Gustavo Griff

sábado, 20 de abril de 2013

Ao tempo



    Eu amo tudo o que foi,
    Tudo o que já não é,
    A dor que já me não dói,
    A antiga e errônea fé,
    O ontem que dor deixou,
    O que deixou alegria
    Só porque foi, e voou
    E hoje é já outro dia.

    Poema Fernando Pessoa
    Fotografia Gustavo Griff

Uma pequenina luz


Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indeflectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
Brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.

Brilha.

Poema Jorge de Sena
Fotografia Gustavo Griff

quinta-feira, 18 de abril de 2013

But most of all...


I'm a model, ya know what i mean
And i do my little turn on the catwalk
Yeah on the catwalk
On the catwalk yeah
I shake my little tush on the catwalk

I like the way you move!!!!!

Too sexy for my
Too sexy for my
Too sexy for my

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Quem vê quem?

A la pintura

A ti, lino en el campo. A ti, extendida
superficie, a los ojos, en espera.
A ti, imaginación, helor u hoguera,             
diseño fiel o llama desceñida.                              

A ti, línea impensada o concebida.
A ti, pincel heroico, roca o cera,
obediente al estilo o la manera,
dócil a la medida o desmedida.

A ti, forma; color, sonoro empeño
porque la vida ya volumen hable,
sombra entre luz, luz entre sol, oscura.

A ti, fingida realidad del sueño.
A ti, materia plástica palpable.
A ti, mano, pintor de la Pintura.

 
Poema de Rafael Alberti
Fotografia de Gustavo Griff