quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A janela da liberdade.










Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.


Alberto Caeiro

sábado, 26 de janeiro de 2013

Amor diferente...


Amar! mas d'um amor que tenha vida... 
Não sejam sempre tímidos harpejos, 
Não sejam só delirios e desejos 
D'uma douda cabeça escandecida... 

Amor que vive e brilhe! luz fundida 
Que penetre o meu ser — e não só beijos 
Dados no ar — delírios e desejos — 
Mas amor... dos amores que têm vida... 

Sim, vivo e quente! e já a luz do dia 
Não virá dissipa-lo nos meus braços 
Como névoa da vaga fantasia... 

Nem murchará do sol á chama erguida... 
Pois que podem os astros dos espaços 
Contra débeis amores... se têm vida? 

Antero de Quental, in 'Sonetos'