quinta-feira, 15 de abril de 2010

O meu sax e eu

Durante a semana passada, eu e a minha cara metade caminhávamos com direcção ao nosso lar. Entretanto, nem me lembro bem porquê, encetámos uma conversa sobre o mundo das artes. Já sei porquê. Falávamos de pessoas que cantam extraordinariamente bem, mas que, sem prejuízo de tal dom, têm de viver dos musicais do Filipe La Féria, caso queiram efectivamente prosseguir um percurso na carreira artística.

Mentira. A conversa começou por eu ter dito que não me importaria de fazer vida da música. De facto, cada vez mais gosto do som do saxofone e, apesar de estar ciente que me falta "comer muito feijãozito", estou determinado a aprender a tocar em condições e, quem sabe, daqui a algum tempo, tornar-me profissional da coisa.

Nem mais. A conversa começou por aqui mesmo. Sonhos à parte, rapidamente retornámos à realidade e apercebemo-nos da triste condição de um profissional das artes. E foi exactamente nesse momento que constatámos que quem sabe cantar vive dos musicais do La Féria, que, by the way, é o único encenador em Portugal a apostar em musicais.
Comecei, como é óbvio, pelos "actores" dos Morangos com Açucar, essa série que marcou uma geração. De facto, "faz-me espécie"... Será que a nossa comunicação social vive tão arredia de princípios? Raros são os "actores" que são bons. Mais: o argumento da coisa, valha-te nossa senhora. Mas será que não há escritores e actores em Portugal dignos de serem aproveitados logo desde a Universidade? Será que apenas nas agências de modelos (que conforme o próprio nome indica, contrata modelos), existem "actores"?

Quantos e quantos estudantes de teatro, de cinema, etc., etc., provenientes de Faculdades, Conservatórios, e afins, não existirão prontos para embarcar em projectos que os possam envolver e dar azo a que apliquem todos os seus conhecimentos e ensinamentos?

Mas não. Vamos ali à Elite Model Look, buscar um "actor". Melhor: vamos buscar uma "actriz", daquelas que vendem saúde... Isso sim são "actrizes". Agora lembrei-me de uma piada de um amigo, mas se calhar não vou contar...

Esta situação verifica-se também na música. Instrumentistas exímios, que tocam desde os 4 anos de idade; cantores insignes que a dormir cantam melhor que os "Perfume", que apenas passaram na Rádio por terem "cravado" o Rui Veloso (a sério, retrato minimal????), que são obrigados a viver de casamentos aos fins-de-semana onde tocam o "apita o comboio" apenas porque o mercado só tem lugar para os músicos portugueses que nem uma frase sabem escrever correctamente. Não condeno estes gajos. Vão atrás do dinheiro. Mas será que não há espaço para quem efectivamente percebe da poda???? E não me digam que gostam dos "Perfume", porque eu não acredito. Nem as mães dos gajos gostam.

Fico honestamente triste, por este nosso País (e por isto quero significar os seus habitantes) ter tantas reservas quanto à qualidade dos seus ilustres desconhecidos e depois apoia os Morangos com Açucar. Não digo que estes não sejam necessários. Porque são. Vejam o exemplo da minha sogra: não gosta de morangos au naturel. Não fora o açucar, e não comeria Morangos.
Mas outros exemplos poderiam ser nomeados. Aliás, segundo consta, o curso de jazz do Hot Club Portugal não é reconhecido pelo Ministério da Educação. Não encontro razão para isto, tendo em conta a qualidade do curso, mas mais do que isto, forma verdadeiros músicos.
Enfim. Seja como for, com ou sem Portugal, continuarei a alimentar este sonho que acalento há muitos anos, e continuarei a lutar pela minha continuação no Saxofone.

Quem sabe se daqui a uns anitos não me encontrarão num bar a ... ser feliz!!!