sexta-feira, 14 de maio de 2010

Voltei. Desta vez para assumir a minha ignorância relativamente a certas artes. Ou, talvez, para demonstrar simplesmente que não gosto de certas artes. No final, o leitor decidirá. Cá vai:
Cheguei há pouco de um espectáculo de ballet contemporâneo que teve lugar no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
A coreografia é-nos trazida por Béjart Ballet Lausanne, sendo certo que a mesma foi criada por Maurice Béjart, quem, de acordo com a Wikipédia (razão pela qual advirto, desde já, para possível incorrecção, mas tendo em conta que este não é um artigo histórico, não me debrucei muito sobre tal questão), fundou Les Ballets de l'Etoile, mais tarde rebatizado de Ballet-Théâtre de Paris.
Nota histórica (breve) feita, vamos ao que de facto releva.
Aquando do início do espectáculo, era visível o prazer assumido pelos espectadores que, ansiosamente aguardavam pela entrada dos bailarinos. No Coliseu, apesar de os lugares não se encontrarem todos ocupados, ouviam-se as conversas que nos rodeavam, repletas de expectativas quanto ao evento que ali tomaria forma. Infelizmente (para mim, claro está), as minhas expectativas não eram muitas, dado que (assumo-o sem problemas), o ballet contemporâneo não é dança que me inspire. Continuando...
Os bailarinos reunem-se na escuridão do palco e, lado a lado, deitam-se no chão, cobertos por lençóis. Quando os vejo, penso: Aquilo é que era... Mas, bom... Começa a música: Queen. De imediato ocorre-me que talvez as minhas expectativas se frustrem, e este seja até um bom espectáculo. Pois bem. Enganei-me redondamente. Iniciaram a sua coreografia a andar no palco. Foi-me explicado que cada quadro de dança tem um significado. Mas foi explicação que não me satisfez (o mesmo é dizer que continuei a ver a coreografia sem lhe achar a mínima piada).
Efectivamente os bailarinos eram bons no que faziam. Eu é que via a coisa muito mal parada. Correcção: parada apenas. Mas não fazem ideia do quanto... Era de tal forma que o momento alto da noite, foi o meu sogro a espilrar... Não estou a brincar com os leitores cibernautas. Para que vejam a "loucura" da coreografia, havia partes em que os bailarinos coçavam a cabeça (cujo significado é obviamente "tenho comichão"). Mas mais... A coreografia era de tal forma empolgante, que a determinada altura entram dois bailarinos deitados numa maca, com as pernas entrelaçadas. Entretanto, na fila atrás da minha, uma respiração forte e profunda fazia-se ecoar pela sala de espectáculos que, aparentemente, se havia transformado em regaço apropriado para introspecção daquele atento e interessado espectador. De facto, nem os bailarinos em tronco nu, com os seus troncos torneados, eram susceptíveis de suscitar o interesse da minha desconhecida companheira de fila, de tal forma que, e relembrando os senhores leitores que se trata de ballet, a senhora batia o pé... Seria para tentar manter o ritmo cardíaco activo? Talvez...
A determinada altura surgem dois outros bailarinos rodopiando pelo palco dentro de duas esferas armilares. "Agora é que vai ser", pensei eu. PUMBAS!!! Enganei-me. Não aconteceu nada. No entanto, noto que há algo diferente desta vez. Quando me detenho sobre tal questão, reparo que o referido atento espectador que tão profundamente respirava, estava já a roncar. "Ah bom. Haja alguém que me entenda..." De repente, uma bailarina oscula levemente um outro bailarino. Agora sim, vai acontecer algo interessante. Mas não. Aliás, o feliz contemplado pelo beijo roubado pela bailarina, ficou de tal forma atónito que logo de seguida se sentou numa cadeira que, no decorrer da coreografia, foi posta em palco (não fosse algum dos bailarinos ficar cansado de andar...). Apercebo-me então, que haviam roubado o espectáculo ao La Féria: pegaram numa data de gajos e enfiaram-nos dentro de um cubo branco... "Olha a gaiola das loucas...". Subitamente, surge dos bastidores uma bailarina com o busto desnudado. "Ao menos isto", ocorreu-me (a mim e, atenta a reacção de alvorada da maioria dos homens presentes, não só). Mas, uma vez mais, nada. O bailarino que aguardava a chegada de tal desnudada bailarina, agarrou-se a uma almofada... "Ui!!! Está tudo estragado", pensei. No entanto, o regresso do figurino utilizado no início do espectáculo, fez despertar em mim a pouca energia que ainda me restava. Logo afirmei que o espectáculo estaria no fim. Mas, não... Decidiram reproduzir um vídeo que, ao que parece, mostrava o coreógrafo primitivo a dançar ao som de uma música de Queen. "Não saio daqui vivo...", foi o que mais rapidamente me ocorreu. Acaba o vídeo. Aplaudem os espectadores. Eu não... Eu tive medo! Sabem aquela parte final dos concertos em que se pede mais uma música? Era exactamente essa parte. Receei que um qualquer janado pedisse aos bailarinos que interpretassem mais uma música que fosse. Mas não. Fecha-se a cortina. De súbito, um foco de luz incide sobre o palco, e ilumina um bailarino. "Morri, e mandaram-me para o inferno", pensei. Afinal, e para meu enorme gáudio, era o coreógrafo que se vinha despedir e agradecer a recepção confortável e calorosa com que foi presenteado. Apagam-se novamente as luzes, e todos os bailarinos entram em palco novamente para saudarem aquele público. Quando se reacendem as luzes, reparo que metade das pessoas que anteriormente comentavam com grande prosápia e eloquência o rumo que tomaria aquele espectáculo, já se tinham ausentado. "Ora bolas - ocorreu-me - Eu que até nem tinha grande vontade de aqui estar, mantenho-me no meu lugar (és parvo, pensarão os leitores) para aplaudir o esforço e o empenho que os bailarinos depositaram naquela coreografia, bem como o profissionalismo e paixão com que nos banquetearam nesta noite, e os gajos da bazófia já se puseram a milhas... Ora bolas. Afinal, qual a atitude que se deve tomar relativamente ao novo? Fazermo-nos passar por entendidos e, inevitavelmente, acabarmos por fazer figura de parvos, ou, tentar manter um espírito curioso sem "negar à partida uma ciência que desconhecemos"?
Seja como for, a verdade é que o meu espírito curioso não me levou a lado nenhum, a não ser à certeza que ballet contemporâneo não é a "minha onda"... Eu é mais é bolos...
Admiro no entanto, o trabalho esforçado dos bailarinos que ali estiveram nesta noite. Não me interpretem mal. Para quem gosta, admito que seja extraordinário. Eu é que não gosto, simplesmente.

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