domingo, 8 de novembro de 2009

Uma questão de mentalidade

Li há pouco um artigo numa daquelas revistas semanais, cujo nome não revelo por não me ser paga a publicidade, podendo no entanto adiantar que a capa não é feita pela Lili Caneças, pela Bibá Pita, nem mesmo pelo Cláudio Ramos (pasmem-se os leitores...).
Do referido artigo constavam as seguintes informações:
- População: 2 milhões;
- Emissões de CO2 per capita: 7,47 toneladas;
- Consumo energético per capita:48,65 GJ (gigajoules);
- Percentagem de energia renovável consumida pela cidade: 9,69%;
- Percentagem de cidadãos que caminham até ao trabalho ou usa transportes públicos: 66%;
- Consumo anual de água per capita: 87,12 m3;
- Quota de lixo reciclado: 7,11%.
São estas as informações constantes que permitirão avaliar da atitude dos portugueses, em particular os de Lisboa, relativamente ao meio ambiente.
Transcrevo agora um parágrafo que refere que "a geografia da cidade, o clima e a actividade económica não compensam as pobres políticas de transportes, de qualidade do ar, de uso da água e do solo e de gestão dos resíduos urbanos".
E tanto assim é que, e no que concerne aos transportes públicos em particular, Lisboa é das capitais europeias cuja qualidade do ar é a pior, consequência do número excessivo de veículos particulares que diariamente poluem o ar na capital de Portugal.
Mas coloco agora a seguinte questão: já passou pela cabeça de dirigentes políticos, de altos cargos de empresas públicas e privadas, etc., questionarem-se do porquê de assim ser?
A verdade é que, efectivamente, as ligações existentes entre Lisboa (cidade) e os "subúrbios" é efectivamente precária.
Posso dar-vos como exemplo a minha família: não morava eu em Lisboa, e eu e toda a minha família (nuclear) entrávamos em Lisboa no nosso automóvel. Claro que o fazíamos todos no mesmo carro, mas fazíamo-lo. E, de facto, era mais rentável virmos todos no mesmo automóvel, do que pagar cada um Eur. 50,00 pelo passe mensal. É certo que se trata de um veículo que consumia muito pouco. Mas, não obstante, era mais rentável.
Posso dar-vos outro exemplo ainda mais gritante: tenho um amigo e colega, que, no início do estágio da Ordem dos Advogados, diariamente entrava em Lisboa de comboio, vindo da outra margem, sustentando um passe mensal pela módica quantia de ... adivinhem... Eur. 100,00...
Ora, como a maioria deve saber, o estágio da grande parte dos candidatos a advogados não é remunerado. Mas já nem vou por aí. Num país em que o ordenado mínimo ronda os Eur. 450,00, quer parecer que um passe mensal deste valor se torna consideravelmente elevado, tendo em conta, que é ainda necessário fazer face a tantas outras despesas obrigatórias.
Na realidade, considero que as linhas de transportes públicos devem ser melhorados. Mas considero também que tal não seja feito ao abrigo da ganância capitalista e tendencialmente desumanizada...
Pois, na verdade, todos sabemos que sempre que são melhoradas vias de comunicação, os preços que pagamos por serviços que são já elevados, ficam ainda mais caros.
Concordo que tenhamos de pagar pela inovação e melhoria de qualidade de vida. Não concordo que tal seja feito em prol de aumento de património pessoal de "certos e determinados" directores...
Mas enfim... Não podemos também culpar "os vampiros" por tudo de mau que acontece neste país. De facto, o nosso problema é um problema de mentalidade, aliás, como amplamente consta documentado. Mas apesar de todos nós sabermos isso, continuamos na mesma...
Há uns dias eu e a minha namorada apanhámos um táxi para regressar a casa. Taxista que se preze, percebe tudo sobre tudo. Perdidos entre conversas políticas e sociais, lá disse o taxista: "Eu acho bem que as pessoas que têm carro o tragam para Lisboa. O carro é meu, e eu faço o que eu quiser com ele...". Óbvio que momentos antes o motorista havia dito: temos de mudar as nossas mentalidades...
De facto, enquanto não estivermos dispostos a negar-nos certos luxos, o mais provável é os nossos netos e filhos destes não terem Planeta Terra para habitar. Nessa altura, espero ouvir o senhor motorista dizer: O filho é meu, e eu faço o que eu quiser com ele... Inclusivamente tirar-lhe a natureza e um planeta para habitar...
Lugares comuns à parte, temos mesmo de alterar mentalidades...

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